De Juan Manuel Santos sempre foi dito que ele se preparou a vida inteira para ser Presidente da República, e –julgando pelos fatos– também se preparou para por um fim a mais de cinco décadas de guerra com as Farc.
Quando tomou posse do trono de Bolívar, no dia 7 de agosto de 2010, deixou claro que a chave para a paz não está no fundo do mar e ordenou, de forma secreta, que fossem feitas aproximações com a guerrilha para explorar a possibilidade de um dialogo.
Em Cartagena, e com os olhos de toda a comunidade internacional postos na Colômbia, fechou no dia 26 de setembro esse ciclo ao colocar uma assinatura historia a um acordo que deixa os 52 anos de conflito como um capitulo mais da historia recente do pais. Mesmo assim, o processo está em uma fase de expectativa, depois do resultado do plebiscito do dia 2 de outubro, no qual ganhou a opção do “Não”.
Santos, desde que serviu como jornalista desta Casa Editorial –da qual chegou a ser subeditor–, sempre esteve interessado pelos assuntos relacionados com a paz, o que o levou a analisar os diferentes processos já realizado em outros países, em especial o que está relacionado com a África do Sul e o papel que desempenhou nele a emblemática figura de Nelson Mandela.
O mesmo Santos lembra que algo que marcou sua postura frente a saída negociado foi a cimeira na qual participou Adam Kahane, um experto em resolução de conflitos que ajudou ativamente no processo de paz da África do Sul. Esta reunião foi conduzida pela Fundação do Bom Governo em 1996.
Um ano depois, depois desse encontro, foi realizado em Antióquia outro encontro de lideres nacionais para pensar em um pais para o futuro. Dali nasceu ‘Destino Colômbia’, um documento no qual se vislumbram vários cenários para acabar com conflitos. Um deles fala sobre o fortalecimento da Força Pública para reduzir ao máximo as guerrilhas para que elas se vejam forcadas a negociar o desarmamento.
Isso foi, precisamente, o que Santos executou e esta segunda-feira viu os resultados. Em 1998, em sua primeira aspiração oficial a Presidência nas fileiras do Partido Liberal, sua bandeira politica foi alcançar a paz através do dialogo.
A assinatura da paz teve outros protagonistas que o próprio Santos reconhece. Enquanto tentavam negociar a zona desmilitarizada do Caguán, o ultimo processo fracassado com as Farc, o então presidente Andrés Pastrana (1998-2002) lançou as bases para o fortalecimento militar com o Plano Colômbia, programa de cooperação financiado pelos Estados Unidos.
Os frutos deste processo foram vistos durante a administração de Álvaro Uribe (2002-2010), quem teve a Santos como Ministro de Defesa e levou as Farc a uma redução histórica em sua capacidade ofensiva e delinquencial.
Consciente deste momento histórico, resultado do esforço do Estado para recuperar a institucionalidade –e cujo panorama parecia colado de exercícios do que nasceu ‘Destino Colômbia’–, Santos abriu a porta ao dialogo para colocar um ponto final ao conflito interno e começar a reconhecer as vítimas do mesmo, para transformar realmente ao país. Esta segundafeira, como ele sublinhou, viu o resultado.
Aos 65 anos de idade, Santos conquistou um objetivo traçado praticamente desde que foi iniciado na vida pública, tanto funcionário como jornalista. Ele foi o primeiro ministro do Comercio do país, mas também foi ministro de Defesa durante o governo de Uribe, posição que lhe permitiu propinar duros golpes às Farc.
Está bem claro que houveram fatores que se juntaram para que o conflito com as Farc chegara ao fim, tanto políticos como militares, mas é inegável que o trabalho de Santos ao longo destes anos –e o que resta por ser consolidado no post conflito–foi fundamental para que o quebra cabeças da paz finalmente tomasse forma.
Ele já disse que após deixar a Casa de Nariño quer se dedicar ao ensino e que –já expressou com algo de ironia–não quer incomodar seu sucessor. Sem duvida, na academia será exemplificada a conquista que o fez passar a historia como o presidente que –após mais de meio século–acabou com as Farc.
Como foi notificado ao pleno da ONU a semana passada em Nova Iorque. A mensagem foi direta:
“A guerra na Colômbia terminou”.
EL TIEMPO
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